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| INTRODUÇÃO |
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| A Bacia Sanfranciscana é uma bacia intracratônica e corresponde ao registro fanerozoico do Cráton do São Francisco. |
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| O Grupo Areado, objeto deste estudo, é o representante eocretácico desta bacia e divide-se nas Formações Abaeté, Quiricó e Três Barras, da base para o topo respectivamente. |
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| Diversos trabalhos acerca do Grupo |
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| Destacam-se os trabalhos de Seer et al. (1989), Sgarbi (1989), Kattah (1991), Arai et al. (1995), Campos e Dardenne (1997), Sgarbi e Dardenne (1998), Mendonça (2003), Carmo (2004) e Sgarbi (2011). |
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| Entretanto, nenhum trabalho foi centrado na análise de paleocorrentes e sua relação com a paleogeografia da bacia. |
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| Este trabalho possibilitará reconstituição paleogeográfica embasada por análise sistemática de paleocorrentes e análise de fácies sedimentares, contribuindo para melhor compreensão dos processos ocorridos no Cretáceo Inferior da Bacia Sanfranciscana. |
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| O Grupo Areado está compreendido entre o Barremiano Inferior e o Albiano Médio (Campos e Dardenne, 1997). |
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| Este período de tempo é de significativa importância para a geologia do petróleo no Brasil, visto que este intervalo é portador de importantes rochas geradoras e reservatórios de hidrocarbonetos nas bacias brasileiras. |
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| O melhor entendimento dos sistemas deposicionais atuantes e a reconstituição paleogeográfica da Bacia Sanfranciscana contribuirá para o conhecimento da evolução geológica no interior do continente durante este significativo intervalo de tempo dos sistemas petrolíferos brasileiros. |
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| LOCALIZAÇÃO E FISIOGRAFIA DA ÁREA |
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| A área de estudo apresenta cerca de 15.600 Km² e localiza-se na porção oeste de Minas Gerais, na Sub-bacia Abaeté (Figura 1). |
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| Os afloramentos estudados encontram-se nos arredores das cidades de Presidente Olegário, João Pinheiro, Varjão de Minas, Patos de Minas e Carmo do Paranaíba. |
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| Abrange as cartas topográficas de Presidente Olegário (Folha SE.23-Y-B-I), Serra das Almas (Folha SE.23-Y-B-II), Carmo do Paranaíba (Folha SE.23-Y-B-IV), Rio do Sono (Folha SE.23-V-D-V) e Canabrava (Folha SE.23-V-D-II). |
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| Os principais acessos à área se dão pelas rodovias BR 352, BR 365, BR 354, BR 040, MG 410 e MG 408. |
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| Contudo, o acesso a grande parte dos pontos estudados se dá por estradas vicinais em terra. |
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| O bioma da região de interesse é o Cerrado, sendo o clima semi-úmido, com 4 a 5 meses secos, com temperaturas médias acima de 18ºC em quase todos os meses e pluviosidade anual de 1350 mm (IBGE 2013). |
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| Segundo Sgarbi (2011), as principais feições geomorfológicas da área são morrotes de morfologia plana, colinas baixas, cristas elevadas e vales encaixados. |
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| Figura 1 – Localização da área de estudo (Coordenadas UTM, datum WGS84, Zona 23 – Dados retirados do CPRM) |
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| 1.2 OBJETIVOS |
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| Este trabalho tem por escopo a realização de análise de fácies sedimentares e de paleocorrentes do Grupo Areado da Bacia Sanfranciscana, visando obter os ambientes deposicionais e a reconstituição paleogeográfica da bacia. |
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| São objetivos específicos desta pesquisa: (a) descrição e interpretação de fácies sedimentares do Grupo Areado; (b) levantamento de seções estratigráficas verticais; (c) identificação do padrão de paleocorrentes, interpretação do paleomergulho deposicional, definição das áreas-fonte e direção dos paleoventos; (d) interpretação dos paleoambientes deposicionais; e (e) discussão da paleogeografia. |
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| CONTEXTUALIZAÇÃO GEOLÓGICA DO GRUPO AREADO |
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| A Bacia Sanfranciscana é uma bacia intracratônica e fanerozoica. |
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| Possui morfologia alongada, com aproximadamente 1.100Km de extensão e 200Km de largura (Sgarbi et al., 2001), compreendendo parte dos estados de Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Goiás (Figura 2). |
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| Limita-se a sul com a Bacia do Paraná, pelo Alto do Paranaíba, e a norte pelo Alto do São Francisco, que a separa da Bacia do Parnaíba (Campos e Dardenne, 1997). |
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| As faixas Brasília e Araçuaí/Espinhaço Setentrional limitam, respectivamente, as bordas ocidental e oriental da Bacia Sanfranciscana (Campos e Dardenne, 1997). |
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| A bacia é subdividida por Campos e Dardenne (1997) em duas sub-bacias, Abaeté (sul) e Urucuia (centro-norte), sendo separadas pelo Alto de Paracatu. |
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| As rochas da Bacia Sanfranciscana assentam-se , em discordância erosiva e angular, sobre rochas paleoproterozoicas do embasamento, rochas neoproterozoicas do Grupo Bambuí, rochas mesoproterozoicas do Grupo Natividade e sobre rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba (Sgarbi, 2011). |
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| Sgarbi (2011) dividiu a Bacia Sanfranciscana em quatro ciclos tectono-sedimentares: 1º - Grupo Santa Fé (do Permo-Carbonífero); 2º Grupo Areado (do Eocretáceo); 3º Grupo Mata da Corda (do Neocretáceo); 4º Grupo Urucuia (do Neocretáceo). |
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| O Grupo Areado (Figura 3), compreendido entre o Barremiano Inferior e o Albiano Médio (Campos e Dardenne, 1997), foi o objeto de estudo neste projeto. |
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| Oliveira (1881 apud Sgarbi, 2011) e Lisboa (1906 apud Sgarbi, 2011) foram os pioneiros nos estudos sobre a sedimentação do Grupo Areado, sendo o termo Areado designado primeiramente por Rimann (1917 apud Sgarbi, 2011). |
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| Coube a Barbosa (1965) a subdivisão, em três membros, da então Formação Areado: Abaeté, Quiricó e Três Barras. |
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| Esta unidade foi elevada à categoria de Grupo por Costa e Grossi Sad (1968). |
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| Foi também tratada como grupo por Kattah (1991) e como formação por Lima (1979), Seer (1989), Sgarbi (1989) e Castro (1996). |
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| Contudo, desde os trabalhos de Campos e Dardenne (1997) há praticamente consenso em considerar como Grupo Areado. |
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| A sedimentação deste grupo deu-se em clima desértico, sendo uma de suas características a grande variação lateral de fácies decorrentes dos diversos processos atuantes (Campos e Dardenne, 1997; Sgarbi, 2011). |
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| O Grupo Areado divide-se nas Formações Abaeté, Quiricó e Três Barras, da base para o topo respectivamente. |
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| A Formação Abaeté apresenta-se distribuída principalmente na porção centro-sul da bacia, na Sub-Bacia Abaeté, sendo descontínua para norte. |
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| Esta formação é considerada o melhor guia estratigráfico da Bacia Sanfranciscana (Campos e Dardenne, 1997). |
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| A Formação Abaeté é constituída por conglomerados, arenitos conglomeráticos, arenitos e lamitos sendo que a composição dos conglomerados varia do sul para as demais regiões da bacia (Campos e Dardenne, 1995). |
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| Sgarbi et al. (2001) dividiram a Formação Abaeté em dois membros: Carmo e Canabrava. |
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| O Membro Carmo, segundo Sgarbi (2011), ocorre na região de Carmo do Paranaíba (MG) e é constituído por conglomerados matriz-sustentado e arenitos líticos depositados por leques aluviais e fluxos aquosos que geraram depósitos do tipo wadi. |
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| O Membro Canabrava é descrito na porção norte da Sub-Bacia Abaeté, com área tipo na região homônima, e é composto por conglomerados clasto-sustentados, e secundariamente por arenitos conglomeráticos, arenitos, siltitos e argilitos. |
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| Campos e Dardenne (1997) caracterizaram este membro como originado em sistema fluvial entrelaçado. |
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| Segundo Sgarbi (2011), a Formação Quiricó, de sedimentação predominantemente lacustre, apresenta ampla ocorrência geográfica, com morfologia alongada de sul para norte, e com depocentros isolados, caracterizando lagos sazonais. |
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| A Formação Quiricó é composta por pelitos, com intercalações de arenitos, o que é mais comum para o topo da formação (Campos e Dardenne, 1997). |
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| Localmente ocorrem calcários micríticos cinza esverdeados, maciços, em bancos intercalados nos pelitos (Sgarbi, 1989). |
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| Considera-se que este lago foi assoreado, no Eocretáceo, por deltas do tipo Gilbert (Sgarbi 1989, Sgarbi, 2011) e pela progradação de dunas eólicas (Campos e Dardenne, 1997; Sgarbi, 2011). |
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| A Formação Três Barras é a unidade com maior variação lateral de fácies, com atuação simultânea de sistemas fluviais, flúvio-deltaicos e eólicos. |
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| Também é a formação com maior espessura e de mais ampla ocorrência (Campos e Dardenne, 1997; Sgarbi, 2011). |
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| Esta formação pode alcançar espessuras máximas de 150 m, na Sub-Bacia Abaeté, e é constituída essencialmente por arenito médio a fino, podendo apresentar cimento de carbonato e sílica. |
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| Sgarbi (2011) descreve deformações atectônicas nos arenitos desta formação. |
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| Também foram descritos sismitos nesta unidade, representados por deformações dúcteis e rúpteis nos arenitos, e teriam sido geradas por abalos sísmicos em decorrência de atividade tectônica transtrativa (Kattah, 1992). |
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| Tectonicamente, durante a deposição do Grupo Areado dominava esforços distencionais relacionados à abertura do Atlântico sul (Campos e Dardenne, 1997). |
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| Neste período também ocorreu a reativação de falhas antigas do embasamento, sendo que segundo Campos e Dardenne (1997) estas falhas foram responsáveis pelo soerguimento do Alto Paranaíba e pela subsidência mecânica que deu origem à Sub-Bacia Abaeté. |
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| Segundo Fragoso (2011) esta tectônica extensional levou ao abatimento de um bloco central, que se limitava a oeste por falhas normais e a leste pela reativação da Falha de Galena, formando assim um sistema horst-graben. |
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| O Grupo Areado adquiriu ênfase, inicialmente, devido à prospecção de diamantes nos conglomerados da Formação Abaeté. |
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| Todavia, apesar da significativa contribuição de trabalhos realizados sobre este grupo, algumas questões ainda continuam em aberto. |
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| Como por exemplo, se houve uma possível ingressão marinha, atestada por radiolaritos descritos por Kattah (1991). |
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| Ademais, há também carência de informações no que tange a um estudo sistemático das paleocorrentes para este grupo, e melhor entendimento sobre a paleogeografia da Sub-Bacia Abaeté. |
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| 2.1. CRONOESTRATIGRAFIA DO GRUPO AREADO |
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| Não existem datações absolutas para o Grupo Areado. |
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| Datações pelos métodos K-Ar e U-Pb das rochas vulcânicas do Grupo Mata da Corda, sobreposto ao Grupo Areado, forneceram idades em torno de 80 Ma (Sgarbi et al., 2004). |
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| Sabe-se assim que o Grupo Areado é mais antigo que 80 Ma, mas não existem informações suficientes para estabelecer o início da sedimentação. |
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| Deste modo, a bioestratigrafia é o principal instrumento para a datação das rochas do Grupo Areado. |
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| O conteúdo paleontológico encontra-se em maior quantidade na Formação Quiricó, sendo descritos peixes, troncos, pólens, ostracodes e radiolários. |
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| Também são descritas pegadas de dinossauros em sedimentos da Formação Abaeté (Carvalho e Kattah, 1998). |
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| O estudo que permitiu a primeira datação para a Formação Quiricó foi de Scorza e Santos (1955), que descreveram fósseis de peixes teleósteos, de água doce, da espécie Dastilbe moraenses nov. esp., associados a restos vegetais indeterminados. |
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| Estes fósseis ocorrem em um nível de folhelho preto no município de Varjão de Minas. |
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| O estudo destes peixes permitiu posicionar a Formação Quiricó no Aptiano. |
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| Desde então, diversos autores buscaram, através de estudos paleontológicos, determinar a idade da Formação Quiricó. |
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| Dentre estes, grande parte dos autores atribuiu idade barremiana/aptiana para esta formação. |
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| Entretanto, estudos de conchostráceos (Cardoso, 1971) e de ostracodes (Sgarbi, 1989), encontrados na Formação Quiricó, conferiram idades mais antigas do que as consideradas pelos demais autores, respectivamente neojurássica-eocretácea e berriasiana. |
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| Dentre os trabalhos bioestratigráficos, destacam-se os de Arai et al. (1995) e Carmo et al. (2004). |
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| O primeiro trabalho apresentou resultados palinológicos de amostras coletadas na região de Patos de Minas. |
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| Os dados palinológicos, em geral, convergem à Palinozona de Transitoripollis crisopolensis (P-230), ou seja, corroboraram os dados de Lima (1979), que a considerou de idade barremiana. |
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| O trabalho de Carmo et al. (2004) consistiu na análise de ostracodes presentes em duas localidades: Município de Carmo do Paranaíba e João Pinheiro (próximo ao rio do Sono). |
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| Foram estudadas 15 espécies de ostracodes (Tabela 1), todas não marinhas. |
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| Algumas das espécies de ostracodes estudadas também são encontradas em outras bacias e, dentre as espécies já estudadas, três delas foram datadas como aptianas. |
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| Contudo foram observadas duas espécies de ostracodes típicas do Barremiano da Argentina (Wolburgiopsis plastica e Wolburgiopsis chinamuertensis). |
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| Com estes dados, os autores concluíram que a porção inferior desta formação é de idade barremiana, corroborando dados de autores anteriores que consideraram esta idade para parte da Formação Quiricó. |
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| Os dados bioestratigráficos da formação Quiricó convergem para deposição barremiana, apesar de algumas divergências das idades atribuídas à Formação Quiricó por diversos autores. |
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| Assim sendo, o Grupo Areado teria sido depositado no Cretáceo Inferior, posicionado desta forma em um período de tempo de significativa importância para a geologia do petróleo no Brasil. |
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| Outra questão relevante, e ainda polêmica para a bioestratigrafia e paleoecologia do Grupo Areado, são os radiolários descritos pioneiramente por Kattah (1991). |
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| A autora descreveu níveis delgados de silexitos com presença de radiolários, estando estes níveis associados a pacotes arenosos de origem fluvial ou eólica (Castro, 1996). |
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| Contudo, tanto os radiolários, como a biota descrita posteriormente (foraminíferos, bivalves e espículas de esponjas) em outros estudos (Pessagno e Dias-Brito, 1996. |
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| Dias-Brito et al., 1999) indicam paleoambiente deposicional marinho nerítico profundo. |
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| Estes níveis com radiolários correspondem a uma contradição dos dados paleontológicos e o ambiente deposicional interpretado pelas fácies sedimentares onde eles ocorrem. |
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| Apesar de diversos autores terem tentado explicar estes radiolários, com ingressões marinhas do Atlântico Norte (Kattah, 1991) ou do Oceano Pacífico (Pessagno e Dias-Brito, 1996. |
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| MÉTODOS E ATIVIDADES EXECUTADAS |
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| A pesquisa se iniciou pelo levantamento bibliográfico em artigos, teses e dissertações, mapas e demais materiais referentes à Bacia Sanfranciscana, enfocando trabalhos pertinentes ao Grupo Areado. |
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| Também foi consultada bibliografia dos principais artigos e livros referentes a processos sedimentares possivelmente atuantes na deposição dos sedimentos deste grupo. |
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| Este material bibliográfico levantado foi organizado em banco de dados a fim de facilitar o seu manuseio. |
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| Foram realizadas duas campanhas de campo, sendo a primeira no período de 20 a 28 de julho de 2013. |
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| A segunda campanha aconteceu entre os dias 17 e 24 de maio de 2014. |
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| A coleta de dados ocorreu na região dos municípios de Presidente Olegário, João Pinheiro, Varjão de Minas, Patos de Minas e Carmo do Paranaíba. |
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| Precedendo as atividades de campo houve etapas preparatórias a fim de elaborar a programação dos campos. |
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| Esta etapa consistiu no planejamento da logística dos campos e na pré-seleção de pontos de interesse, através da literatura e da análise de imagens do Google Earth e de imagens SRTM e Landsat processadas. |
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| Nas campanhas de campo foram descritos ao todo 103 pontos, sendo que em 41 destes foram levantadas estações de paleocorrentes (Figura 4). |