A Bacia de Pelotas é a mais meridional na costa brasileira (Figura 1) e apresenta poucos trabalhos publicados a seu respeito se comparada às outras bacias de margem continental brasileiras.
A caracterização estrutural para a porção norte da Bacia de Pelotas foi realizada através de 17 seções sísmicas, onde foram caracterizadas falhas normais, em padrão dominó, falhas sintéticas e antitéticas e lístricas, além da identificação de estruturas como o Arco de Torres (Fonseca 2006), (Alves 1981) a Plataforma de Florianópolis individualizada por Gonçalves et al. (1979), Zona de Falha do Rio Grande (Miranda 1970), (Kowsmann 1974).
Para a caracterização estrutural da área continental foram utilizadas imagens de satélite SRTM 90m sendo identificados o Lineamento Tibagi descrito por Hasui et al. (2012) e “Sinclinal” de Torres caracterizado por Vitorello e Padilha (2000), além de mapa gravimétrico e aeromagnetométrico.
O objetivo deste trabalho é caracterizar as principais estruturas do arcabouço geológico do embasamento aflorante da Bacia de Pelotas e sua correlação com a porção offshore da mesma.
A caracterização é realizada a partir da integração de dados de superfície do continente com dados de subsuperfície (offshore) da bacia adjacente, utilizando técnicas de sensoriamento remoto e interpretação sísmica.
A área de estudo se estende do sul do Estado de São Paulo ao norte do Rio Grande do Sul na porção emersa e a Bacia de Pelotas na região offshore, perfazendo um total de 440 530 Km², destes 278 048 Km² estão localizados na porção continental e 162 482 Km² na parte offshore (Figura 2).
Para alcançar o objetivo, o trabalho realizado contou com banco de dados possuindo 9 imagens SRTM 90 m para a região estudada, 17 seções sísmicas referente a Bacia de Pelotas, registro sônico, pasta de poço, perfil composto, mapa gravimétrico e magnetométrico da porção Sudeste à porção Sul do território brasileiro, mapa geológico e geomorfológico de todo o território brasileiro.
Nesta etapa foi realizado o levantamento e a compilação de dados bibliográficos das bacias de Pelotas e Paraná, em termos de associações de rochas sedimentares e magmáticas, dados geofísicos, seções geológicas e dados estruturais do embasamento das bacias.
Entre as principais bibliografias consultadas, devem ser citadas Fonseca (2006 tese de doutorado) Villwock e Tomazelli (1995), Bueno et al. (2007), Dias et al. (1994), Fontana (1990) e Cardozo (2011) para a bacia de Pelotas e Milani et al (1994) e Zalan et al. (1986), para a bacia do Paraná.
O programa utilizado nesta etapa foi o ERMapper para mosaicar as 9 imagens SRTM 90m que completavam toda a porção Sul da Região Sudeste do Brasil, em seguida foram selecionadas apenas as imagens da área estudada.
Através destas imagens, foram localizadas feições morfoestruturais e geomorfológicas tais como vales estruturais, anomalias de drenagem, escarpas de serras e outras; levando ao reconhecimento dos principais lineamentos estruturais ao longo do Lineamento de Tibagi e “Sinclinal” de Torres (Figura 3).
Após esta etapa os segmentos retilíneos interpretados foram exportados em formato shapefile para o ArcGis 9.3 onde foi separado as direções preferenciais para a elaboração do Diagrama de Rosetas de frequência e comprimento absoluto com intervalo de 10º no programa Spring que proporcionou a quantificação gráfica da disposição espacial das fraturas presentes na área estudada.
Através destas distorções é possível agrupar rochas com propriedades magnéticas semelhantes, identificar contatos geológicos, limites de corpos subterrâneos, alinhamentos estruturais e várias outras propriedades do corpo rochoso em estudo, como dimensões, mergulho e profundidade.
De acordo com Luiz & Silva (1995), frequentemente os lineamentos observados nos mapas magnéticos são paralelos às direções estruturais como zonas de cisalhamento, falhas, fraturas e dobras.
O mapa foi obtido através do banco de dados referente ao projeto Rifte (2011) gerado através da interpolação dos dados em malhas regulares de 3x3 km através da técnica de Mínima Curvatura e abrange áreas do sul do Estado de São Paulo até o Estado de Santa Catarina.
O programa ArcMap 9.3 auxiliou na interpretação do mapa, as principais estruturas foram identificadas com base em feições como variação na intensidade do campo, padrão linear de contorno, terminação de altos e baixos e alinhamento de altos e/ou baixos.
O mapa gravimétrico fornece dados sobre as diferentes distribuições de densidade em subsuperfície terrestre, sendo que estas provocam pequenas anomalias no campo gravitacional terrestre.
Estas seções sísmicas, juntamente com os dados de poços (contendo registros sônicos, raios gama e densidade), da porção norte da Bacia de Pelotas, foram adquiridas através do Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), administrada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Inicialmente foi feita uma média da velocidade intervalar para cada trecho que apresentava mudanças na velocidade; em seguida foi definida a espessura de cada intervalo estratigráfico.
Através de dados do perfil composto foi obtida a espessura da lâmina d’água de 1755m, a velocidade adotada para esta lâmina foi 1500 m/s, após a substituição destes dados na fórmula acima, foi obtido o tempo simples que em seguida foi convertido para tempo duplo em milissegundos.
O cálculo forneceu a espessura da camada sedimentar e o tempo simples de jornada da onda nos sedimentos, este foi transformado para o tempo duplo para calibrar os horizontes estratigráficos (poço) com a seção sísmica.
Após a obtenção dos valores de tempo de cada intervalo, estes foram transferidos para a seção sísmica e, com a associação dos dados referentes ao poço 1 BPS 0007, foi possível definir, com precisão, os horizontes estratigráficos mapeados (Topo do Embasamento, Topo do Rifte, Topo do Albiano, Topo do Cretáceo Superior, Topo do Eoceno e Topo do Mioceno).
As seções sísmicas foram interpretadas com o programa Seisvision (Geographix), que permitiu o mapeamento dos horizontes estratigráficos e as estruturas geológicas.
Foram traçados seis horizontes principais: Embasamento, Topo do Rifte, Topo do Albiano, Topo do Cretáceo Superior, Topo do Eoceno e Topo do Mioceno e, a partir de seus traços, os principais traços deformacionais que possam estar associados aos lineamentos de interesse da pesquisa.
Em pesquisa realizada em outro projeto, foram realizadas atividades de campo coordenadas pelo Prof. Dr. Norberto Morales, com o objetivo de coletar dados referentes às atitudes de fraturas e falhas.
Os dados obtidos foram utilizados na descrição em escala regional do Lineamento Tibagi, e foram aqui utilizadas para completar a descrição deste lineamento.
O uso de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) permitiu de modo fácil, a integração de diferentes tipos de dados (mapas, imagens, etc), deste modo possuindo cada vez mais importância em estudos geológicos.
O uso destas técnicas auxilia e dinamiza a interpretação dos dados pelo geólogo, já que proporciona a visão global dos mesmos, através da integração de diferentes mapas temáticos e bancos de dados.
A Faixa Ribeira (Almeida et al. 1973, Cordani et al. 1973, Hasui & Oliveira 1984) é a unidade mais importante da Província Mantiqueira e um dos vários cinturões orogênicos neoproterozóicos envolvendo o Cráton São Francisco (Figura 5).
Ela abrange um complexo cinturão de dobramentos e empurrões gerado entre 450 e 700 Ma (Machado et al. 1996), na borda sul/sudeste do Cráton do São Francisco (Barbosa 1966, Almeida 1969, 1977), representando a raiz do orógeno colisional neoproterozóico bastamente erodido.
A sua evolução está relacionada à subducção para SE da paleoplaca Sanfranciscana, que após processo de subducção, colidiu com a microplaca da Serra do Mar e o paleocontinente do Congo durante a Orogênese Brasiliana (Heilbron et al. 2000).
O segmento central da Faixa Ribeira preserva o registro desta orogênese através dos efeitos metamórficos e de magmatismo que atinge as coberturas metassedimentares meso-a neoproterozóicas, retrabalhando o embasamento anteriormente consolidado no evento Transamazônico.
O Escudo Sul-Rio-Grandense localiza-se na porção meridional da Província Mantiqueira (Almeida et al. 1981, Hasui et al. 1985), englobando o Orógeno Dom Feliciano, corresponde à área do Estado do Rio Grande do Sul que é marcada pela ocorrência de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares pré-paleozóicas, cuja origem é relacionada aos ciclos Transamazônicos (Paleoproterozóico) e Brasiliano/Pan-Africano (Neoproterozóico).
O Orógeno Dom Feliciano (Figura 5) é formado por sequências de margens passivas neoproterozóicas e por extensos segmentos de arcos magmáticos de mesma idade, além de restos do embasamento arqueano.
Possui estruturação alongada na direção NE-SW, devido à colisão continental oblíqua como resultado da colisão dos crátons Rio de La Plata, Paranapanema e Kalahari (Heilbron et al. 2004).
A Bacia Sedimentar do Paraná (Figura 6) se localiza no Continente Sul-Americano nas porções territoriais do Brasil meridional, Paraguai oriental, nordeste da Argentina e norte do Uruguai, totalizando uma área próxima de 1,5 milhão de quilômetros quadrados.
Ordovício-Siluriana (Supersequência Rio Ivaí): representada pelo Grupo Rio Ivaí, possui as formações Alto Garças (conglomerados e arenitos conglomeráticos), Iapó (diamictitos) e Vila Maria (folhelhos e siltitos).
Devoniana (Supersequência Paraná): formada pelo Grupo Paraná, apresentando as formações Furnas (arenitos branco-amarelados, cauliníticos com estratificações cruzadas) e Ponta Grossa (folhelhos sílticos, siltitos e arenitos).
Carbonífero-Eotriássica (Supersequência Gondwana I): constituída pelos grupos Itararé, Guatá e Passa Dois, representando as sequências mais espessas da Bacia do Paraná, de caráter transgressivo-regressivo.
O Grupo Passa Dois é constituído pelas formações Irati, Serra Alta, Teresina e Rio do Rasto (no estado de São Paulo, a Formação Corumbataí se equivale às formações Serra Alta, Teresina e parte da Formação Rio do Rasto, interdigitando-se com estas).
Neotriássica (Supersequência Gondwana II): possuidora das formações Pirambóia e Rosário do Sul (arenitos avermelhados e esbranquiçados, médios a finos, com estratificação cruzada).
São representados por depósitos continentais areno-conglomeráticos, com seixos de diversas litologias, maciços ou com estratificação cruzada, ocorrendo também depósitos síltico-argilosos e carbonatos de caliche.
A Bacia de Pelotas, assim como as demais bacias da margem continental brasileira, tem sua origem atrelada ao rompimento do Supercontinente Gondwana e formação do Oceano Atlântico Sul.
O registro da sequência evaporítica na Bacia de Pelotas restringe-se apenas na porção Norte, que apresenta o registro das menores espessuras no depocentro.
A porção Sul da bacia apresenta um espesso pacote sedimentar que em algumas áreas chega a ultrapassar 10.000 m (Fontana 1989), porém a ausência de pacote evaporítico forneceu um aspecto monótono e pouco deformado, quando comparado às outras bacias brasileiras (Figura 8).
O embasamento da Bacia de Pelotas é caracterizado por rochas do Cinturão Dom Feliciano, faixa móvel de origem no Ciclo Brasiliano (Villwock e Tomazelli 1995) e pelas sequências Vulcano-Sedimentares da Bacia do Paraná.
Este fato é confirmado pela presença de sequência sedimentar Permo-Triássica (grupos Guatá e Passa Dois) e outras vulcanosedimentares Juro-Cretácea (formações Serra Geral e Botucatu) em dados de poço perfurado pela Petrobras na cidade de Torres (RS) (Bueno et al., 2007).
Segundo este autor a Bacia de Pelotas possui arcabouço estratigráfico constituído pelas supersequências descritas a seguir, que podem ser visualizadas na carta estratigráfica regional (Figura 9).